O discurso de Pinto da Costa na inauguração da casa do FC Porto em São João da Madeira, no dia 5 de Abril, merece ser destacado.
Destaco do seu discurso:
1) A promessa em festejar o tetra em Lisboa na próxima época;
2) A crítica aos que fazem “do ódio e da inveja lema de vida”;
3) O repto a que se ignorem os adversários “com o desprezo que merecem os vermes”;
4) O lamento que é a “infelicidade de não poder ter no Porto um Presidente de Câmara igual ao de São João da Madeira”.
Jorge Nuno Pinto da Costa é, em termos de eficácia, um Presidente de Clube ímpar na história do futebol português.
Para lá dos problemas que tem com a justiça, a desportiva e a não desportiva, para lá da mácula indelével que resulta do teor das conversas registadas em escuta, tenham ou não validade jurídica, para lá dos testemunhos e dos indícios de corrupção, para lá do “Corrupção” e do “Eu, Carolina”, Pinto da Costa tem do seu lado um historial de conquistas que o tornam único. Mesmo que venha a ser condenado por corrupção, e essa é uma questão que Pinto da Costa terá de resolver com a Justiça, queira ou não, o mérito das conquistas dos seus mandatos não é redutível aos ilícitos em que Pinto da Costa está envolvido e indiciado. E nisso ele tem razão. Mas aqueles que ouviram ou leram as escutas, independentemente da sua validade jurídica, independentemente das suas consequências jurídicas e desportivas, também têm razão: Pinto da Costa, nos mais de 25 anos, não jogou limpo e, na sua saída, quando acontecer, não levará uma aura de impoluto. E nem mais 20 títulos lhe darão a glória que julga merecer.
Dir-se-á que o discurso de Pinto da Costa, ontem em São João da Madeira, é o de um homem nervoso, de cabeça perdida, revoltado por lhe querem retirar o mérito de conquistas maiores apontando-lhe aquilo que para ele são minudências e corruptelas aceitáveis e legítimas num país de maiores males.
Ainda que haja algo de verdade nessa leitura, é preciso fazer do discurso de Pinto da Costa um enquadramento mais amplo.
A crítica aos que fazem “do ódio e da inveja lema de vida” é reveladora da índole de Pinto da Costa e da sua revolta em relação àqueles que querem reduzir os seus êxitos aos ilícitos em que, presumivelmente, está envolvido. Uma vez mais, como tantas outras no passado, embora com maior emotividade, com menor destreza intelectual e sem a ironia peculiar, Jorge Nuno Pinto da Costa vitimiza-se com as causas dos seus próprios êxitos.
Sobretudo porque se alguém soube utilizar o ódio e a inveja como lema de vida, e a partir daí elevar-se ao sucesso, esse alguém foi justamente Jorge Nuno Pinto da Costa.
Ouvi-se ontem e viu-se no passado. Com mais sucessos desportivos (o que o torna mais arrogante), com menor destreza (o que o torna menos subtil e irónico), com o peso da justiça nas costas (o que o torna mais reactivo e impulsivo), Pinto da Costa continua a ser o mesmo de sempre, ficando, com o passar do tempo, apenas mais igual a ele próprio. E se o futebol português tem vivido muitos anos sob a tutela de um Major é judicioso reconhecer que Jorge Nuno Pinto da Costa é um General que recorre às melhores tácticas daqueles que fizeram grande conquistas instigando o ódio e a inveja. E é aí que se vê que Jorge Nuno Pinto da Costa continua o mesmo, o que, em teoria, lha dá a razão e a confiança suficiente para garantir que na próxima época irá festejar o tetra a Lisboa.
O repto a que se ignorem os adversários “com o desprezo que merecem os vermes” resulta, seguramente, da mistura desse ódio (estratégico e pessoal) com a exuberância de uma conquista evidente (o tri), fermentado, certamente, pelo cerco da justiça e das acusações de corrupção. E os excessos da linguagem não são meras consequências das acusações de corrupção, como não revelam apenas menor destreza intelectual. Revelam, sobretudo, o verdadeiro Jorge Nuno Pinto da Costa.
O Jorge Nuno Pinto da Costa que vocifera que “O FC Porto é um símbolo do Norte, aqui nasceu Portugal. Não nos calarão por mais pontes que façam, nem por mais milhões que nos levem. Temos de lutar contra o centralismo absurdo”, que reitera “Eu, infelizmente, não tenho, mas vós tendes um grande Presidente da Câmara” (zurzindo num Rio Rio que “nunca foi à bola” com Pinto da Costa) é o mesmo homem que ao longo de 25 anos foi alimentando um ódio e uma inveja viscerais aos seus adversários, e particularmente ao maior de todos.
O facto de Jorge Nuno Pinto da Costa assumir verbalmente aquilo que sempre praticou, instigando no balneário, na cidade e no país que se ignorem os adversários “com o desprezo que merecem os vermes” - prática e retórica que, assimiladas por jogadores, técnicos e adeptos, permitiu muito dos sucessos desportivos acumulados pelo FC Porto de Pinto da Costa -, contrasta com uma curiosa e veemente recusa em aceitar as acusações de corrupção e os indícios que colocam em causa alguns dos seus êxitos.
O verniz não é eterno.
By Peixoto
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Os meus parabéns por este post é só o que me apetece realçar.
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