Ai Jesus
Última hora: Recebo a esta hora três telefonemas. Todos eles com a mesma mensagem. Jorge Jesus assinou contrato com o Benfica durante o dia de hoje. O contrato vale ao treinador do Sp.Braga um milhão de euros brutos/ano. Não sei se é verdade. Custa-me a admitir, estamos a três dias do Braga-Benfica. Por outro lado, se for verdade, já começa a ser indiferente.
A contratação de um novo treinador no Benfica, pelo mesmo presidente que contratou Jesualdo Ferreira, Camacho, Trapattoni, Koeman, Fernando Santos, de novo Camacho, um bocadinho de Chalana e finalmente Quique Flores, já não é aguardada pelos benfiquistas como um sinal esperançoso de novos tempos, mas sim como demonstração de que o Benfica, actualmente, substituiu os títulos pelos ciclos, a estabilidade pela incerteza.
Por isso, pessoalmente, reajo, como benfiquista, com alguma indiferença a estas notícias sobre a iminente contratação de Jorge Jesus. Em primeiro lugar porque sei que o verdadeiro Jesus de que o Benfica precisava não é o de Braga, mas aqueloutro, que nasceu há mais de 2000 anos, na Galileia. Esse sim, fazia milagres. Este não. É apenas um bom treinador, com boas intenções, mas que não será nem melhor, nem pior do que os outros dezassete que passaram pelo Benfica nos últimos quinze anos.
Em segundo lugar, porque esta contratação devia explicar aos sócios do Benfica que Luís Filipe Vieira continua sem aprender com os erros que foi e continua a cometer. Já fez o mesmo a Fernando Santos, quando o engenheiro era o treinador do Benfica e o presidente do clube passava férias em Espanha com o seu substituto. Não há respeito pelas pessoas, não há o cuidado de os defender na sua dignidade profissional e o Benfica arrisca-se um dia a deixar de ser apelativo a grandes treinadores do circuito mundial. A este respeito gostaria que um dia Camacho pudesse explicar porque é que dificilmente repetiria hoje as férias com Luís Filipe Vieira e revelasse os motivos pelos quais se sentiu impotente para continuar no clube, quando deixou o Benfica no segundo lugar do campeonato e com o Sporting a uma distância confortável. E seria também revelador para os benfiquistas, que Luís Filipe Scolari pudesse explicar-nos porque motivo não aceitou treinar o Benfica, quando recentemente foi convidado pelo presidente do nosso clube.
Há dois meses atrás, a manutenção de Quique Flores se fosse a votos, teria uma indiscutível maioria absoluta. Porém, um ou dois resultados negativos acenderam os alarmes na SAD do Benfica. O presidente e alguns administradores resolveram que essa manutenção do treinador espanhol seria perigosa em ano eleitoral. A partir daí a equipa caiu a pique, completamente desgovernada e sem um único sinal de recuperação. Durante dois meses, com o patrocínio dos directores do Benfica – à excepção de Rui Costa, imediatamente isolado nas reuniões do Conselho de Administração da SAD – o jornal A BOLA, abriu as hostilidades.
Desde essa altura, todos acham que têm direito a acrescentar um prego no caixão de Quique. As primeiras páginas desse jornal desportivo foram-se tornando mais agressivas, alguns textos de opinião foram reflectindo a imagem que a SAD pretendia construir nos sócios, preparando-os para uma nova sucessão, um vice-presidente do clube ataca o treinador em directo, na SIC, o presidente e o director-desportivo escapam-se para Inglaterra, deixando a equipa, o treinador e mais uns quantos funcionários entregues a si próprios e no final dessa semana, após o empate com o Trofense, confirma-se, sem um pudico estremecimento interior, a notícia de que Di Maria se tinha revoltado no balneário contra o treinador.
Durante dois meses foi um pagode autêntico, uma espécie de fogo-de-artifício que foi rebentando com a autoridade de Quique no balneário e com a auto-estima dos adeptos. Do director de comunicação, da Benfica TV, do jornal do Benfica, da revista Mística, do site do clube, do director-desportivo e finalmente da direcção, nem um único sinal de que o treinador seria defendido. Como nunca foi. E agora, chegámos ao cúmulo desta cínica decisão de afastar Quique Flores. Ainda não terminou o campeonato e já todos sabemos quem vai substitui-lo. E por curiosidade, ou não, será o treinador do próximo adversário do Benfica no campeonato. E será caso para perguntar, aos ideólogos desta decisão de substituir Quique por Jesus, de que lado estarão no próximo fim-de-semana? Do lado do Benfica e ajudar a que o actual treinador e equipa de futebol possam sair do campeonato com dignidade, ou estarão do lado de Jesus, como demonstração final de que tinham razão?
É tudo isto que incomoda no Benfica actual. É verdade que o designado “sistema” não favorece o Benfica e pelo contrário afunda o clube numa doentia e irreprimível perseguição ao ouro, mas há outro sistema que prejudica a hipótese do clube se recuperar. Um sistema que destrói jogadores, treinadores e até directores-desportivos. Um sistema auto-fágico, que se alimenta de indecisões, instabilidade e pânico pelos resultados. Um sistema que apenas vive o Benfica em função de uma estratégia de sobrevivência no poder e não de um desejo construtivo de refundar o clube e as suas fundações mais visíveis.
Este é o problema do Benfica e dos benfiquistas em relação a estes sistemas. Acabar com o segundo para destruir o primeiro. De outro modo, lá está, o Jesus que o Benfica precisa é o da Galileia, não é o do Braga.
José Marinho in Mágico SLB
quinta-feira, 14 de maio de 2009
post do José Marinho....
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