"As últimas cenas passadas dentro e fora do Tribunal de Gaia, onde estão a ser julgados por corrupção os srs. Pinto da Costa, presidente do FC Porto, Augusto Duarte, árbitro de futebol, e António Araújo, empresário de jogadores e "homem de mão" do presidente têm qualquer coisa de "dejá vu".
Algures noutras paragens, mais mediterrânicas e mais violentas, com base em dinheiro vivo, que passa de mão para mão com fins misteriosos em misteriosos envelopes, acontecem, de facto, cenas assim. O silêncio é a grande lei da família e testemunha que se atreva depor contra alguém do grupo (contra o chefe então, é impensável) é hostilizada e agredida, se não lhe acontecer pior, porque por ali só o silêncio é soberano e contra ele ninguém pode, nem os senhores da capital.
Todos nós já vimos coisas assim em cinema, só que agora temos ali a coisa ao vivo dada em directo e, mesmo se o guião não é tão radical, não faltam por cá os personagens estranhos e as situações. A testemunha maldita, Carolina, apesar de protegida (?) pela Polícia, acaba insultada e agredida por "populares", o agente da autoridade (árbitro) alegadamente corrompido não comparece, invocando misteriosa doença.
O pior é que a sua versão não joga com a do alegado corruptor e figura central do drama (segundo ele, árbitro, foi apenas "tomar um cafézinho e ter uma conversinha" com presidente, precisamente na véspera de ir arbitrar um jogo com o FC Porto. O qual, presidente, "explica" tudo com um encontro de aconselhamento, a pedido do árbitro, "coisas familiares".
Não falta, sequer, a figura do intermediário, engajador e "homem de mão", o fiel Araújo, presente em tudo e para tudo, ou a irmão-gémea, que trai a outra gémea, Carolina, a troco de benesses do "homem", vai depor contra o "próprio sangue" e corre com os jornalistas fazendo-lhes um gesto obsceno com o dedo da mão espetado.
Tudo gente fina. Como se vê.
Pairando sobre as cabeças destes personagens de ópera bufa andam 2 500 € em cinco notas de 500, que a então doce Carolina diz que meteu num envelope a pedido do então marido e presidente para ofertar, com o "cafezinho", ao pobre Augusto Duarte, que eles precisava, vá-se lá saber para quê em conjuntura de tantas e tão grandíssimas dificuldades como as que vivemos.
Alguém percebeu aquela do presidente dizer agora em tribunal que sabia muito bem que tinha o telefone sob escuta? Estaria assim tão certo de que as escutas eram "ilegais"?
Rui Cartaxana
um dos últimos moicanos do jornalismo português que não se vergou ao Sistema Corrupto da Cedofeita....
hoje em dia o que temos por aí são os Luízes Sobrais, Hugos Gilbertos e Manuéis Fernandes das Silvas ao serviço do sistema mais corrupto no desporto de que há memória...
nem na Roménia do Ceaucescu o Steaua de Bucareste foi tão escandalosamente protegido e beneficiado pelas arbitragens e pelas autoridades estatais...
Grande post e grande homenagem a um dos ultimos Jornalistas e acima de tudo Homen com a espinha dorsal intacta.
ResponderEliminarUm Homen Digno! Todos perdemos com a tua ausencia Rui. Sem duvida eras a nossa ultima referencia Jornalistica!
Hoje o que nos resta são estes jornalixos já defuntos. Só ainda não o sabem!
O Sr. Rui Cartaxana terá sido dos últimos jornalistas dignos desse nome. Agora apenas existem por aí uns escrevinhadores por avença, que por vezes nem sequer a língua pátria tratam como o merece.
ResponderEliminarA classe jornalística nacional, e não só a desportiva, na generalidade nem sequer respeita o seu próprio código deontológico limitando-se a ser instrumento de propaganda ao invés de cumprir o seu dever de informar.
Sérgio
Rui Cartaxana não foi apenas um jornalista desportivo nem um mero ajuntador de letras. Foi uma figura de referência no jornalismo português e pioneiro na modernização da imprensa desportiva contribuindo para a profissionalização do sector.
ResponderEliminarA sua independência editorial era um sinal dos seus valores e princípios que sempre defendeu, mesmo que entrasse em choque com o seu clube do coração. Talvez fosse o fervilhar do seu sangue africano - indomesticável - contrastando com a atitude de colegas de outras redacções, comodamente silenciosos, avessos a polémicas e bajuladores.
Com o Rui, desapareceu o jornalismo crítico afrontador do poder, porque não dizer romântico e ousado.