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terça-feira, 12 de outubro de 2010

entrevista de Mário Palma ao Planeta Basket..

Não há comparação possível. Campeão em três países (Portugal, Angola e Jordânia) e em três continentes diferentes, Mário Palma é sem qualquer dúvida o maior representante do basquetebol português além fronteiras.


O último grande feito internacional de Mário Palma ocorreu no Campeonato Asiático de 2009, onde conquistou a medalha de bronze e garantiu o apuramento da selecção da Jordânia para a fase final do Campeonato do Mundo, que se realizou na Turquia.


Leia aqui no 'Planeta Basket', a entrevista que se impõe com o maior embaixador do basquetebol português, Mário Palma.

Após tantos anos a viver fora de Portugal, pode-se dizer que é um cidadão do mundo. Tem saudades de Portugal? E para quando o regresso a casa?
Saudades tenho muitas. Imensas. Tenho aqui a minha família e os meus amigos. Mas fui obrigado a emigrar para continuar a exercer a minha profissão e para continuar a ser treinador de basquetebol.

Estaria interessado em voltar a treinar uma equipa em Portugal?
Claro que sim. Repito, sou um treinador profissional. Sou português. Se aparecer uma proposta que valha a pena, porque não.

Recentemente surgiram rumores em alguns jornais desportivos, que indicavam o seu nome como o mais provável sucessor de Moncho Lopez enquanto treinador da selecção portuguesa. Estes rumores têm fundamento?
Não! Ninguém da FPB falou comigo. Essa informação está incorrecta.

Nos diversos locais por onde passou e onde viveu, existem várias diferenças culturais e sociais que, seguramente, influenciam a forma de trabalhar e de treinar uma equipa de basket. De que forma se superam estas contrariedades e como se consegue manter o sucesso em realidades tão distintas?
Tem a ver com liderança, comunicação, motivação e competência. Tem a ver com estabelecimento de regras bem claras para toda a gente, treinadores, jogadores e dirigentes.
Reconheço que na Jordânia foi mais difícil. Mas mesmo assim, consegui trabalhar quatro anos consecutivos, o que representa um recorde para um treinador estrangeiro em terras árabes.

Qual é a receita para um país modesto no basquetebol, como a Jordânia, chegar a um campeonato da envergadura de um Campeonato do Mundo?
O mais importante é estabelecer uma correcta cadeia de comando. E, especificamente na Jordânia, criar uma linha dura de treino, disciplina e organização.

Como foi recebida esta classificação na Jordânia?
De duas formas distintas. A população gostou e muito.
A elite do basquetebol, desde o primeiro minuto tudo fez para dificultar o meu trabalho, simplesmente porque não aceitam ter um treinador estrangeiro à frente da selecção. Eles disseram desde o inicio que se estava a investir numa “utopia”, pois seria impossível conseguir um lugar no Mundial. E quando o conseguimos, mudaram a conversa e passamos a travar uma autêntica batalha sangrenta. Primeiro tentaram impedir a nossa ida ao Campeonato do Mundo da Turquia, argumentando que iríamos ser esmagados e como tal não precisávamos de gastar o dinheiro do príncipe. A realidade é que a equipa viajou até à Turquia e o presidente do Comité que geria a Federação, foi despedido pelo Comité Olímpico, duas semanas antes de começar a prova.

A sua equipa estava englobada num grupo de ferro, juntamente com a Sérvia, a Argentina, a Austrália, a Alemanha e Angola. Como analisa a prestação da Jordânia na Turquia?
Aqui gostaria de pormenorizar alguns detalhes, para que os leitores do Planeta Basket possam compreender a minha análise final. Em primeiro lugar, temos de ter em conta os problemas acima referidos, que levaram a que o campeonato nacional da Jordânia tenha sido suspenso entre 16 de Agosto de 2009 e 29 de Abril de 2010. Oito dos jogadores que estiveram na Turquia não fizeram qualquer jogo durante toda a época. Se a isto juntarmos todas as contrariedades por parte do comité que geria a federação, como por exemplo não pagar aos jogadores, a não inscrição de um dos melhores bases jordanos na FIBA, contra a minha vontade (e minha ausência, pois nessa altura estávamos a jogar em Portugal), e ter aceite um Wild Card para a Stanković Cup, entre tantos outros problemas. Estas contrariedades levaram a que o nosso melhor poste de 2,12m tivesse abandonado a selecção por falta de pagamentos. A Stanković Cup revelou-se um desastre total, pois além de faltar menos de um mês para o Campeonato do Mundo, aí perdemos mais dois postes, um que fracturou a mão e outro que torceu o pé. Antes do Mundial, os próprios jogadores já nem queriam ir para a Turquia, até porque já estavam há 8 meses sem receber…

Neste contexto e contando com tudo o que aconteceu à volta da equipa, acho que fizemos um EXTRAORDINÁRIO Campeonato de Mundo. E mais, tenho a certeza absoluta, que em condições normais, com todos os jogadores jordanos, teríamos calmamente atingido a segunda fase da prova!

Estou orgulhoso por tudo aquilo que fiz na Jordânia. Quando lá cheguei, o país estava no 68º lugar do Ranking da FIBA. Hoje, o basquetebol jordano ocupa o 32º lugar mundial, o que significa que durante os 4 anos de Mário Palma subiu 36 lugares. E neste enorme êxito do basquetebol jordano, não posso deixar de referir o precioso contributo do meu adjunto e amigo Mário Gomes. Sem a sua preciosa ajuda profissional, sem a sua postura séria e leal, provavelmente não teríamos alcançado tantos êxitos.

Como vai ser o seu futuro após o Campeonato do Mundo da Turquia? Vai continuar na Jordânia?
A Jordânia é uma página fechada. Por agora não tenho nada em vista. Nem me preocupo. O cansaço físico e mental, que gastei a enfrentar guerras em terras árabes, foi enorme e parece que trabalhei 5 anos na mesma época.

Gostaria de treinar uma equipa da NBA? Porquê?
Sim. Acho que todos os treinadores querem. Mas devem ter um ano de adaptação. A NBA não é um jogo dos treinadores, mas sim um jogo dos jogadores e dos agentes.

E se pudesse regressar à Europa para um campeonato mais competitivo, como o Espanhol, Russo ou Grego? Estaria disposto a aceitar um eventual convite?
Sim. Não tenho duvidas de que teria condições para me tornar campeão nacional e para atingir grandes êxitos nas competições europeias, se por acaso receber alguma proposta de qualquer um dos campeonatos mais fortes do velho continente.

Já trabalhou em clubes e em selecções. Inclusivamente já trabalhou simultaneamente num clube e numa selecção. Na sua opinião quais são as principais diferenças entre treinar um clube e uma selecção nacional?
A principal diferença é que no clube podes trabalhar 10 meses, tens tempo para formar a equipa e impor a sua filosofia do jogo. Na selecção o tempo é escasso, pelo que ficas muito dependente do trabalho efectuado nos clubes.

Acha que é um trabalho conciliável e que treinador pode ser simultaneamente, responsável por uma selecção e por um clube?
Pode. Não há nada que impeça isto. E se no clube onde o seleccionador trabalha existem atletas seleccionáveis, isto apenas beneficia a selecção. O ideal seria ter 7 ou 8 jogadores nestas condições, pois tal facilitaria imenso a transmissão para a equipa nacional da filosofia de jogo e exigências desse treinador.
Depois deve-se definir muito bem, para que todos os clubes compreendam, que o tal treinador, quando está ao serviço da Selecção, está a representar o país e é exclusivamente treinador da equipa Nacional. Isto é importante, porque podem surgir outros problemas.

Não participou em qualquer das listas para as eleições da FPB? Porquê?
Na minha óptica de ver as coisas, os treinadores no activo não se devem meter em politica federativa. Nós não devemos participar nos assuntos das pessoas que estão lá para dirigir o basquetebol. Da mesma forma que os treinadores não devem permitir que os dirigentes interfiram com as suas funções de treinadores.

Em que momento percebeu que queria ser treinador profissional de basquetebol?
Comecei a jogar basquetebol com 18 anos em Angola, no Benfica de Luanda. Com 20 anos passava as longas noites dos meus fins de semana a discutir basquetebol. Foi nesta altura que percebi o que queria fazer na vida. Com 24 anos de idade, parei de jogar e abracei a profissão de treinador.

Qual foi o treinador que mais o marcou?
No início foram dois. Vicente Costa e Manuel Campos. Mais tarde, John Wooden que me marcou para toda a vida, de tal forma que a minha filosofia de jogo ficou para sempre ligada ao basquetebol americano universitário.

E qual foi o melhor jogador com quem trabalhou?
Tive a sorte de trabalhar com grandes jogadores e não é justo citar apenas um. Voltando para atrás, acho que houve três que estiveram acima de todos os restantes: Carlos Lisboa, Jean Jaques e Miguel Lutonda.

Na sua opinião, quais são as qualidades que um treinador deve ter para ser bem sucedido?
Primeiro, ser Honesto, o que implica também ser Justo.
Segundo, ser competente – saber o jogo em profundidade.
Em terceiro lugar, ser líder, com boa capacidade de comunicação e motivação.
Em quarto lugar, ter a sua própria filosofia (modelo de jogo) e conseguir pô-la em pratica.
E por fim, mas não menos importante, saber rodear-se de pessoas competentes mas não submissas! Pessoas com carácter sério e leais. O exemplo que não posso deixar de referir é o Mário Gomes. As suas qualidades humanas e profissionais foram extremamente importantes para o meu sucesso.

Pode deixar algum concelho para os jovens treinadores de Portugal?
Estudar o jogo. Aprender com treinadores de sucesso. Estudá-los em profundidade. Eu, por exemplo, estudei John Woodan com o objectivo de perceber porque alcançou tanto sucesso.
Se queres dançar tango, deves ir à Argentina.
Se queres ser treinador de futebol, deves estudar o José Mourinho. Eu próprio estudei em profundidade Mourinho. O que faz, porque o faz, etc.
Este é o meu concelho – estudem outras pessoas de sucesso. Encontrem as razões pelas quais elas são bem sucedidas.

O que pensa do site Planeta Basket?
É excepcional. O Planeta Basket permite manter o basquetebol em Portugal vivo. Espero que este site se mantenha sério e educativo como até agora, e que deixe os pontos negativos para quem gosta de especular.


Continuação de Bom Trabalho.



1 comentário:

  1. Grande Águia Gloriosa mais um post magnifico com um dos nossos nomes Imortais.
    Mário Palma penso que não merece este País, apenas merece o nosso Glorioso. É um dos melhores tecnicos de sempre em modalidades colectivas com uma carreira notável, brilhante que eleva bem alto o nosso nome como um predestinado, uma enciclopédia do Basket. Comparando é o Mourinho do Basket Português. O trabalho em todo o lado que passa é fabuloso, devia ser um orgulho para Portugal, mas como sempre pouco lhe ligam. A vergonha por exemplo de nem sequer o tentarem contratar para a nossa selecção depois da saída do ridiculo espanholito que está cá a ver o nosso Henrique a ganhar titulos é a prova da incompetência e estupidez da também podre Federação do eterno Saldanha (o Madaíl do Basket).
    Mário Palma como grande Benfiquista será sempre um Imortal do clube por tudo que ganhou e deu ao Glorioso. Ele apenas construiu a melhor equipa de sempre do Basket Português e como afirmou depois do nosso ultimo titulo dessa geração em 95 uma das melhores de sempre em desportos colectivos. Ele que já apanhou no clube quase todos esses jogadores eternos, refinou a equipa e as qualidades de todos os jogadores. O Jean Jacques nunca teria tido a carreira no estrangeiro que teve se não fosse Palma, o nosso Lisboa não teria abandonado aos 38 anos ainda como o melhor jogador Português, como o Pedro Miguel não seria o base brilhante que foi, ou o Sergio Ramos não teria sido o jogador que foi e é se não passa-se nas maos do nosso Mário Palma, apenas o Phill Jackson Português.

    P.S- Gostava muito de o ver regressar ao seu/nosso Benfica para acabar o projecto que tinha de ganhar algo na Europa e agora com melhores condições a todos os niveis. Não quero dizer que queira ver o Henrique fora pois tenho muito orgulho e carinho por também ele simbolo do Benfica e pelo trabalho magnifico (ele que também foi influenciado por Mário Palma a ser treinador - já o era quando jogava a base) que tem feito, mas Mário Palma é de outro nível e haveria lugar para todos no clube.

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