Como já aqui escrevi, parece me que o Sporting não está tão forte como no ano passado. No entanto, os riscos de desflorestação não se confirmam.
É verdade que saiu uma maçã e o pinheiro acabou por não vir, mas o modo como Aimar e Saviola se mexeram entre o meio campo e a defesa do Sporting deu a entender que os jogadores leoninos estavam bem plantados na relva.
No fim do jogo, pareceu - me ver o preparador físico do Sporting a desenraizar o Maniche da entrada da área. E um dos adjuntos teve de enxotar a águia Vitória, que se preparava para começar a fazer ninho no ombro do Nuno André Coelho.
Desejo aderir ao novo modelo de crónica futebolística em que o autor revela, para mais que previsível gáudio dos leitores, onde, como e quando viu determinado jogo, e ainda tem a gentileza de fazer a resenha das opiniões emitidas por comentadores estrangeiros - que são sempre os mais perspicazes e informados sobre o futebol português.
Antigamente, o público não sabia se um cronista tinha assistido a determinado desafio em directo ou se tinha sido obrigado a ver uma gravação, se tinha visto a partida em território nacional ou estrangeiro.
Esses tempos, felizmente, acabaram. Informo então que assisti ao Nacional-Porto no Brasil, através de um canal televisivo local.
Estava uma temperatura agradável. Ingeri 72 tremoços durante a transmissão.
Os comentadores consideraram claríssimo o penalty não assinalado após evidente mão de Rolando na área (que bobagem!, exclamaram os comentadores) e perceberam, sem recurso à repetição, que tinha sido mal tirado o fora-de-jogo ao ataque do Nacional.
Um dos comentadores, especialmente bem preparado, lembrou a propósito a célebre conferência de imprensa em que Alex Ferguson afirmou que o Porto comprava os seus títulos no supermercado. De facto, o futebol português, visto no estrangeiro, tem outro interesse.
Mais um escândalo que resulta de inomináveis injustiças: o seleccionador do Brasil, evidentemente seguindo instruções do dr. Ricardo Costa, chamou David Luiz e deixou de fora da convocatória o inigualável Givanildo.
Creio que se impõe uma vigília.
Acompanhei com alguma surpresa, as reacções da imprensa nacional à derrota do Braga frente ao Arsenal. Pareceram-me exageradas.
É verdade que o Braga levou 6, mas a equipa portuguesa que lá foi no ano passado levou 5.
É possível que, em Londres, ninguém tenha dado pela diferença.
O único pormenor que verdadeiramente distinguiu as duas derrotas talvez tenha sido este: desta vez, o presidente da equipa goleada apareceu no aeroporto juntamente com a equipa, à chegada a Portugal.
O comunicado da direcção do Benfica continua a suscitar os mais variados comentários.
Uns apoiam-no, outros reprovam-no, e até o treinador André Villas Boas fez uma observação da qual não retive mais do que o facto de incluir a palavra quaisqueres.
Uma das críticas mais frequentes, e à qual sou particularmente sensível, tem a ver com a circunstância de o comunicado disparar em direcções tão díspares como a arbitragem e a comunicação social. Também me parece descabido.
Ainda se tivessem sido publicadas escutas em que se ouvisse o presidente de um clube a dar indicações a um árbitro sobre o melhor caminho a tomar em direcção a sua casa, talvez se percebessem melhor as referências à arbitragem.
Bem assim, se fosse pública outra escuta em que se ouvisse o presidente do mesmo clube a dar indicações a um jornalista sobre o que devia escrever, talvez se compreendesse a desconfiança relativamente à comunicação social - e talvez se percebesse que o tema é, afinal, mais ou menos o mesmo.
Uma vez que nada disso sucedeu, o comunicado parece bater-se contra moinhos de vento que mais ninguém vê (nem ouve).
Ricardo Araújo Pereira, 25 de Setembro in 'A Bola'
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