O futebol está a ficar estranho. O ataque mais realizador do Mundial, que foi o alemão, vem de uma equipa que poucas propostas apresentou relativamente ao jogo a não ser defender-se agrupada e explorar as transições rápidas para chegar com perigo à baliza adversária. Em contrapartida, a equipa que teve a bola durante mais tempo, a Espanha, que por isso mesmo deveria ser considerada a selecção mais ofensiva da competição, usava a bola de uma forma conservadora, defensiva mesmo, privilegiando a segurança e por isso mesmo sagrando-se campeã do mundo com quatro vitórias seguidas por 1-0 e com oito golos marcados em sete jogos (e mais meia-hora de prolongamento no último). É a prova da necessidade de alterar conceitos, de perceber o futebol de forma integrada, de compreender que se pode estar a atacar num jogo em que quase não se tem a bola e que o principal objectivo de a ter nos pés pode muito bem ser o de defender, de não correr riscos.
A grande maioria das equipas deste Mundial seguiu um mesmo modelo de futebol. Um modelo que, primeiro, colocava o foco em blocos defensivos médios-baixos e compactos, como forma de proteger a área e de reduzir o espaço entre linhas, para dificultar a missão aos desequilibradores do adversário. E que depois apostava claramente em dois momentos para chegar ao golo: as bolas paradas e as transições ofensivas. Regra geral, era o médio de transição o doseador de risco no futebol de uma equipa. Ora procurava a profundidade no momento após a recuperação da bola, se a ordem era atacar mais, ora parava o jogo e optava por uma transição mais segura e pela entrada em ataque organizado (mas quase sempre com pouca gente e sem grandes trocas posicionais, já a pensar na transição defensiva que quase inevitavelmente aí vinha) se a ideia era correr menos riscos. Foi esse o futebol da Alemanha, que durante algum tempo fez figura de favorita, pelas duas "chapas quatro" que aplicou sucessivamente a Inglaterra e Argentina. Foi esse também o futebol de Portugal em todos os jogos menos na goleada à Coreia do Norte. A diferença esteve na eficácia das transições ofensivas: enquanto os alemães goleavam, porque eram mestres na forma de meter profundidade (bola no espaço) e largura (ocupação sucessiva dos três corredores) nos seus contra-ataques, os portugueses ficaram em branco em todos os desafios em que jogaram mais atrás.
Já a Espanha, a equipa que teve a bola nos pés durante mais tempo neste Mundial, raramente optava pela transição rápida, pelo que pode dizer-se que se defendia com bola. Demorava a sair, fazia-o pela certa, fosse através de Piqué, subindo em posse ou usando o passe diagonal, ou do recuo para organizar de Xavi ou Xabi Alonso, mas sempre com uma multiplicação de passes cujo objectivo era eternizar a posse à espera de uma aberta e onde a dose de risco era introduzida pela velocidade de circulação ou pela aceleração (promovida quase sempre por Iniesta e nos últimos dois jogos por Pedro também) já com a bola no último terço do campo. A obsessão com a segurança, que distinguiu a Espanha de 2010 da sua antecessora que foi campeã da Europa em 2008, transformou uma equipa espectacular (12 golos em seis jogos na fase final do Europeu) numa formação mais calculista (oito golos em sete jogos), ainda que mantendo a mesma matriz de posse de bola.
O que leva à tal necessidade de redefinição de conceitos: é do senso comum dizer-se que se ataca quando se tem a bola e que se defende quando ela está na posse do adversário, mas a importância ganha pelos outros dois momentos do jogo (as transições, isto é, o que se faz no momento da recuperação e da perda da bola), bem como a intenção com que a bola é usada levam a que essa verdade universal possa ser revolucionada. A Espanha foi campeã do mundo porque, além de ter jogadores de talento inigualável, decisivos nos pequenos detalhes que importam (Casillas, Puyol, Xavi, Iniesta e Villa), foi a melhor equipa da prova a defender com a bola nos pés.
A grande maioria das equipas deste Mundial seguiu um mesmo modelo de futebol. Um modelo que, primeiro, colocava o foco em blocos defensivos médios-baixos e compactos, como forma de proteger a área e de reduzir o espaço entre linhas, para dificultar a missão aos desequilibradores do adversário. E que depois apostava claramente em dois momentos para chegar ao golo: as bolas paradas e as transições ofensivas. Regra geral, era o médio de transição o doseador de risco no futebol de uma equipa. Ora procurava a profundidade no momento após a recuperação da bola, se a ordem era atacar mais, ora parava o jogo e optava por uma transição mais segura e pela entrada em ataque organizado (mas quase sempre com pouca gente e sem grandes trocas posicionais, já a pensar na transição defensiva que quase inevitavelmente aí vinha) se a ideia era correr menos riscos. Foi esse o futebol da Alemanha, que durante algum tempo fez figura de favorita, pelas duas "chapas quatro" que aplicou sucessivamente a Inglaterra e Argentina. Foi esse também o futebol de Portugal em todos os jogos menos na goleada à Coreia do Norte. A diferença esteve na eficácia das transições ofensivas: enquanto os alemães goleavam, porque eram mestres na forma de meter profundidade (bola no espaço) e largura (ocupação sucessiva dos três corredores) nos seus contra-ataques, os portugueses ficaram em branco em todos os desafios em que jogaram mais atrás.
Já a Espanha, a equipa que teve a bola nos pés durante mais tempo neste Mundial, raramente optava pela transição rápida, pelo que pode dizer-se que se defendia com bola. Demorava a sair, fazia-o pela certa, fosse através de Piqué, subindo em posse ou usando o passe diagonal, ou do recuo para organizar de Xavi ou Xabi Alonso, mas sempre com uma multiplicação de passes cujo objectivo era eternizar a posse à espera de uma aberta e onde a dose de risco era introduzida pela velocidade de circulação ou pela aceleração (promovida quase sempre por Iniesta e nos últimos dois jogos por Pedro também) já com a bola no último terço do campo. A obsessão com a segurança, que distinguiu a Espanha de 2010 da sua antecessora que foi campeã da Europa em 2008, transformou uma equipa espectacular (12 golos em seis jogos na fase final do Europeu) numa formação mais calculista (oito golos em sete jogos), ainda que mantendo a mesma matriz de posse de bola.
O que leva à tal necessidade de redefinição de conceitos: é do senso comum dizer-se que se ataca quando se tem a bola e que se defende quando ela está na posse do adversário, mas a importância ganha pelos outros dois momentos do jogo (as transições, isto é, o que se faz no momento da recuperação e da perda da bola), bem como a intenção com que a bola é usada levam a que essa verdade universal possa ser revolucionada. A Espanha foi campeã do mundo porque, além de ter jogadores de talento inigualável, decisivos nos pequenos detalhes que importam (Casillas, Puyol, Xavi, Iniesta e Villa), foi a melhor equipa da prova a defender com a bola nos pés.
by António Tadeia in 'O Jogo Online'
Não posso concordar.... a Espanha teve mais tempo a bola e quase aposto que teve também o maior numero de oportunidades criadas / jogo, tal como os seus medios apareciam constantemente em zonas de finalização......
ResponderEliminarlogo a análise deste futebolólogo não me parece correcta. a espanha era rapidissima nas suas transições, facto que não se verificava por exemplo com o brasil.... daí a diferença de massacre que sofremos....
digo eu, não sei....