Leonor Pinhão
Para João Gabriel, director de comunicação do Benfica, «a Federação Portuguesa de Futebol actuou com ilegalidade» ao atribuir o título nacional de juniores ao Sporting. Do lado do Sporting, Pedro Mil-Homens, administrador da SAD, tem sobre o assunto uma opinião exactamente contrária: «a Federação Portuguesa de Futebol aplicou a Lei.» Normalmente é assim entre Benfica e Sporting. Raramente estão de acordo na apreciação dos factos.
Tome-se por exemplos os dois factos mais recentes.
O primeiro facto em causa ocorreu em Alcochete, na Academia sportinguista, palco do jogo decisivo do campeonato nacional dos mais jovens. Ao Benfica bastava o empate para conquistar o título e era precisamente esse o resultado, 0-0, quando aos 25 minutos da primeira parte deu entrada no recinto a claque benfiquista dos No Name Boys que tinha ficado retida por força do intenso tráfego no rio Tejo ou por força dos procedimentos de segurança que se presumem obrigatórios na organização de espectáculos deste género.
E, logo aqui, se presumem novos desentendimentos entre as opiniões benfiquistas e sportinguistas. Os benfiquistas garantem que o que reteve a claque foi uma barreira policial de controlo. Mas, para os sportinguistas, a claque dos visitantes chegou tarde ao jogo ou de propósito ou porque se demorou na travessia do rio — uma desova de robalos a sudoeste do 18.º pilar da Ponte Vasco da Gama ainda veio complicar mais as coisas…
Lamentavelmente não há imagens televisivamente que esclareçam esta problemática. As imagens de que todos dispomos são já do interior da Academia, com o jogo a decorrer, e com as claques afectas aos dois emblemas entretidas numa ruidosa guerra de paus e de pedradas.
Para os sportinguistas, foram os No Name Boys que entraram no recinto carregados de pedras que, imediatamente, começaram a lançar sobre a assistência que tinha chegado primeiro. Para os benfiquistas, passou-se precisamente o contrário. Recebidos com paus e com pedras na Academia de Alcochete, os elementos da claque benfiquista limitaram-se a responder utilizando o mesmo material.
A única solução sensata deste triste conflito — a repetição do jogo à porta fechada e a punição dos dois clubes — foi, ao que parece, imediatamente posta de lado pela Federação Portuguesa de Futebol.
E, no final de um longo processo de investigação, prevaleceram os argumentos dos responsáveis do Sporting que vincaram muito bem vincado, e logo em cima do acontecimento, que sendo o Benfica um clube muito popular e que sendo Sporting uma agremiação de origem brasonada e de gente das melhores famílias seria «de todo» impossível que fossem os seus adeptos a atirar as primeiras pedras.
E foi a esta conclusão que chegou também o Conselho de Justiça da FPF: «os adeptos da casa invadiram o terreno de jogo em fuga às tentativas de agressão, que incluíram arremesso de pedras, por parte da claque visitante.»
Vamos lá então ao segundo facto…
Na noite de domingo, em Alvalade, o Sporting empatou com o Marítimo e, no final do jogo — que decorreu até ao fim… — e de acordo com os relatos da imprensa, sempre imparcial, houve «uma tentativa frustrada de invadir o hall vip», «tiros para o ar e jogadores sitiados no estádio» e uma acção policial «que só à bastonada e à lei da bala conseguiu repelir os adeptos em fúria».
A coisa foi brava. Segundo o superintendente Costa Ramos, da PSP, «a própria Polícia foi apedrejada e levou com grades em cima».
Impossível! «De todo», impossível!
E, claro, também sobre este episódio benfiquistas e sportinguistas têm opiniões diferentes. Ou, melhor, enquanto uns têm uma certeza, os outros têm uma dúvida.
Os sportinguistas têm a certeza de que, uma vez mais, os autores dos desacatos em Alvalade foram os No Name Boys que, pintados de verde, se infiltraram no recinto na ânsia de causar confusão e de provocar divisões nas fileiras do adversário.
Os benfiquistas, esses, têm uma dúvida:
— Mas também foram os No Name Boys que andaram aos tiros em Alvalade?
Os benfiquistas têm, aliás, várias dúvidas:
— Mas as claques dos outros clubes também atiram pedras?
— Mas, no Sporting, não é costume deles resolverem todos os conflitos internos através de enfadonhos jogos de cricket?
— E o que é que nós temos a ver com isso?
Isso mesmo. Sejamos desportistas.
Parabéns ao Sporting pelo seu título nacional de juniores.
O Benfica devia apelar ao Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol. Não, não é por causa do título de juniores, que está muito bem entregue, muito bem resolvido e que devia até fazer jurisprudência em casos semelhantes de violência fora das quatro linhas.
O Benfica devia apelar ao Conselho de Justiça por causa das ocorrências no túnel do Estádio Axa, em Braga, e em função da tal jurisprudência que emanou da decisão tomada sobre as ocorrências na Academia de Alcochete no tal jogo decisivo do campeonato de juniores.
A questão para a nossa justiça desportiva é esta:
— Quem é que começou?
E, de acordo com o Conselho de Justiça, quem começou é quem tem de ser fortemente penalizado. Ou seja, o primeiro agressor é condenado e quem, em legítima defesa, responde a agressões deve ser premiado.
Há westerns maravilhosos a partir deste pressuposto.
Voltando ao futebol.
Se esta lógica funcionou para premiar com o título de campeão nacional de juniores o Sporting, deveria também funcionar para premiar os jogadores do Benfica que, fora das quatro linhas, foram agredidos no intervalo do jogo com o Sporting de Braga. Sempre de acordo com os factos tal como foram relatados na imprensa, Ramires foi agredido por um elemento da segurança bracarense, o treinador-ajunto Raúl José foi agredido por Vandinho e Cardozo foi agredido «de vários lados» mas, principalmente, por Leone. O nosso bom paraguaio, que basta olhar para ele para vermos que tem mesmo cara de facínora, agredido de «vários lados» é bem capaz de ter levantado a mão para se proteger. Também não se pode exigir a Cardozo, que tem aquele sorriso de assassino que é a sua imagem de marca, que não exerça os seus direitos à legítima defesa quando lhe cai em cima uma saraivada de murros.
Conclusão: o árbitro expulsou Cardozo no túnel e o Benfica vai jogar sem Cardozo contra a Naval e contra o Vitória de Guimarães.
Quanto ao que se passou dentro das quatro linhas, a coisa é fácil de resumir. O Benfica foi frequentemente superior ao Sporting de Braga mas teve um grande problema com a autoridade visto que o Benfica nunca conseguiu, ao longo de 90 minutos, ser superior ao árbitro que veio do Porto. Curiosamente, os acontecimentos do túnel, reflectem muitíssimo bem o que se passou no relvado.
Tome-se por exemplos os dois factos mais recentes.
O primeiro facto em causa ocorreu em Alcochete, na Academia sportinguista, palco do jogo decisivo do campeonato nacional dos mais jovens. Ao Benfica bastava o empate para conquistar o título e era precisamente esse o resultado, 0-0, quando aos 25 minutos da primeira parte deu entrada no recinto a claque benfiquista dos No Name Boys que tinha ficado retida por força do intenso tráfego no rio Tejo ou por força dos procedimentos de segurança que se presumem obrigatórios na organização de espectáculos deste género.
E, logo aqui, se presumem novos desentendimentos entre as opiniões benfiquistas e sportinguistas. Os benfiquistas garantem que o que reteve a claque foi uma barreira policial de controlo. Mas, para os sportinguistas, a claque dos visitantes chegou tarde ao jogo ou de propósito ou porque se demorou na travessia do rio — uma desova de robalos a sudoeste do 18.º pilar da Ponte Vasco da Gama ainda veio complicar mais as coisas…
Lamentavelmente não há imagens televisivamente que esclareçam esta problemática. As imagens de que todos dispomos são já do interior da Academia, com o jogo a decorrer, e com as claques afectas aos dois emblemas entretidas numa ruidosa guerra de paus e de pedradas.
Para os sportinguistas, foram os No Name Boys que entraram no recinto carregados de pedras que, imediatamente, começaram a lançar sobre a assistência que tinha chegado primeiro. Para os benfiquistas, passou-se precisamente o contrário. Recebidos com paus e com pedras na Academia de Alcochete, os elementos da claque benfiquista limitaram-se a responder utilizando o mesmo material.
A única solução sensata deste triste conflito — a repetição do jogo à porta fechada e a punição dos dois clubes — foi, ao que parece, imediatamente posta de lado pela Federação Portuguesa de Futebol.
E, no final de um longo processo de investigação, prevaleceram os argumentos dos responsáveis do Sporting que vincaram muito bem vincado, e logo em cima do acontecimento, que sendo o Benfica um clube muito popular e que sendo Sporting uma agremiação de origem brasonada e de gente das melhores famílias seria «de todo» impossível que fossem os seus adeptos a atirar as primeiras pedras.
E foi a esta conclusão que chegou também o Conselho de Justiça da FPF: «os adeptos da casa invadiram o terreno de jogo em fuga às tentativas de agressão, que incluíram arremesso de pedras, por parte da claque visitante.»
Vamos lá então ao segundo facto…
Na noite de domingo, em Alvalade, o Sporting empatou com o Marítimo e, no final do jogo — que decorreu até ao fim… — e de acordo com os relatos da imprensa, sempre imparcial, houve «uma tentativa frustrada de invadir o hall vip», «tiros para o ar e jogadores sitiados no estádio» e uma acção policial «que só à bastonada e à lei da bala conseguiu repelir os adeptos em fúria».
A coisa foi brava. Segundo o superintendente Costa Ramos, da PSP, «a própria Polícia foi apedrejada e levou com grades em cima».
Impossível! «De todo», impossível!
E, claro, também sobre este episódio benfiquistas e sportinguistas têm opiniões diferentes. Ou, melhor, enquanto uns têm uma certeza, os outros têm uma dúvida.
Os sportinguistas têm a certeza de que, uma vez mais, os autores dos desacatos em Alvalade foram os No Name Boys que, pintados de verde, se infiltraram no recinto na ânsia de causar confusão e de provocar divisões nas fileiras do adversário.
Os benfiquistas, esses, têm uma dúvida:
— Mas também foram os No Name Boys que andaram aos tiros em Alvalade?
Os benfiquistas têm, aliás, várias dúvidas:
— Mas as claques dos outros clubes também atiram pedras?
— Mas, no Sporting, não é costume deles resolverem todos os conflitos internos através de enfadonhos jogos de cricket?
— E o que é que nós temos a ver com isso?
Isso mesmo. Sejamos desportistas.
Parabéns ao Sporting pelo seu título nacional de juniores.
O Benfica devia apelar ao Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol. Não, não é por causa do título de juniores, que está muito bem entregue, muito bem resolvido e que devia até fazer jurisprudência em casos semelhantes de violência fora das quatro linhas.
O Benfica devia apelar ao Conselho de Justiça por causa das ocorrências no túnel do Estádio Axa, em Braga, e em função da tal jurisprudência que emanou da decisão tomada sobre as ocorrências na Academia de Alcochete no tal jogo decisivo do campeonato de juniores.
A questão para a nossa justiça desportiva é esta:
— Quem é que começou?
E, de acordo com o Conselho de Justiça, quem começou é quem tem de ser fortemente penalizado. Ou seja, o primeiro agressor é condenado e quem, em legítima defesa, responde a agressões deve ser premiado.
Há westerns maravilhosos a partir deste pressuposto.
Voltando ao futebol.
Se esta lógica funcionou para premiar com o título de campeão nacional de juniores o Sporting, deveria também funcionar para premiar os jogadores do Benfica que, fora das quatro linhas, foram agredidos no intervalo do jogo com o Sporting de Braga. Sempre de acordo com os factos tal como foram relatados na imprensa, Ramires foi agredido por um elemento da segurança bracarense, o treinador-ajunto Raúl José foi agredido por Vandinho e Cardozo foi agredido «de vários lados» mas, principalmente, por Leone. O nosso bom paraguaio, que basta olhar para ele para vermos que tem mesmo cara de facínora, agredido de «vários lados» é bem capaz de ter levantado a mão para se proteger. Também não se pode exigir a Cardozo, que tem aquele sorriso de assassino que é a sua imagem de marca, que não exerça os seus direitos à legítima defesa quando lhe cai em cima uma saraivada de murros.
Conclusão: o árbitro expulsou Cardozo no túnel e o Benfica vai jogar sem Cardozo contra a Naval e contra o Vitória de Guimarães.
Quanto ao que se passou dentro das quatro linhas, a coisa é fácil de resumir. O Benfica foi frequentemente superior ao Sporting de Braga mas teve um grande problema com a autoridade visto que o Benfica nunca conseguiu, ao longo de 90 minutos, ser superior ao árbitro que veio do Porto. Curiosamente, os acontecimentos do túnel, reflectem muitíssimo bem o que se passou no relvado.
Leonor Pinhão in A Bola
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