O futebol do Benfica por Velhas Glórias

Mário Coluna
"Há falta de liderança"

Mário Coluna liderou a equipa nos anos 60, tendo contribuído para muitos êxitos do Benfica nessa década. À distância, o antigo capitão das águias olha com alguma desconfiança para a equipa: "Eu gostava de saber exactamente o que se passa com a equipa nos jogos em casa, mas, melhor do que ninguém, os seus responsáveis saberão. Do meu ponto de vista, o que o Benfica precisa é de um treinador inglês para disciplinar a equipa. A mentalidade inglesa é diferente e torna-se mais eficaz aplicada ao futebol português", começou por referir Mário Coluna, em declarações a O JOGO. De acordo com o antigo médio, a falta de liderança pode ser também um factor de perturbação. "Antigamente, dentro do campo, eu era o manda-chuva e transmitia, aos meus colegas, tudo o que o treinador desejava. Actuávamos de forma avassaladora, havia estímulos. Agora, não vejo ninguém com capacidade para chamar a atenção dos colegas, quando um jogo não está a correr bem."


Humberto Coelho
"Já não temem o Benfica"

Humberto Coelho é um dos históricos do Benfica. Considerado um dos melhores centrais de sempre do futebol português nos anos 70/80, destacou-se também pela capacidade de liderança. Numa análise fria ao desempenho dos encarnados, o antigo capitão não tem dúvidas: "O Benfica não sabe jogar em ataque continuado, não faz pressão sobre o adversário. Todos vêm ao Estádio da Luz para ganhar. A filosofia do clube mudou, não há agressividade. Até os adeptos estão conformados com o que se passa. Antigamente, perder era uma chatice, agora..." - explicou, mantendo a tónica do seu discurso: "Os adversários já não temem o Benfica, porque num jogo criam três a quatro oportunidades de golo. O Benfica tem de criar 15 a 16 oportunidades, tem de desgastar o adversário logo no início da partida e não nos últimos minutos, como acontece. Antigamente, tínhamos o 'Inferno da Luz', que motivava a equipa, os adeptos e desmotivava o adversário. O Benfica perdeu essa força."


António Veloso
"Problema de identidade"

A longa carreira de águia ao peito permite-lhe uma abordagem simples dos desaires caseiros do Benfica: "Há efectivamente um problema de mentalidade com os jogadores do Benfica, pois 95 por cento não se identificam com o clube. É verdade que são muito bons, pois são todos internacionais, mas há um problema de identificação com o clube, que prejudica o rendimento. Pressão? A que existe é muito boa, é uma pressão saudável, porque é para ganhar. Problemas têm aqueles que jogam para não perder", explicou Veloso, capitão do Benfica nos anos 80/90. "Não me parece que haja falta de liderança no Benfica. Jogadores como o Petit ou o Rui Costa têm muita experiência", acrescentou o antigo lateral. Para Veloso, tornou-se fácil para os adversários jogar na Luz. "Perderam o medo. Todos dizem que vão à Luz para ganhar, o que não acontecia. Antigamente, o Benfica entrava muito forte e tinha de ser assim, porque queria ser campeão. Agora, o adversário toma conta do jogo no início."


Hélder
"Dependem muito do Rui Costa..."

Ainda vive com intensidade os jogos do Benfica e por isso sente mais do que ninguém os deslizes da equipa. Hélder continua a sofrer pelo seu Benfica e confessa que está desiludido com o percurso das águias: "Penso que nem as pessoas dentro do Benfica encontram explicação para tantos pontos perdidos no Estádio da Luz. Sinceramente, não vejo um Benfica tão dominador como acontecia. Normalmente, o adversário era encostado à sua área desde o início. A realidade agora é diferente, e eles [os adversários] acreditam que podem marcar", sublinhou, explicando, ao mesmo tempo, que não há falta de "qualidade no plantel". "O que me parece é que o Benfica sente dificuldades a jogar em ataque continuado e continua a depender muito do Rui Costa, que é o seu único criativo. Quando o Rui não entra no jogo logo no início, perdem solidez. Além disso, joga com dois jogadores nas alas que não são flanqueadores e têm tendência para afunilar o jogo", explicou o capitão encarnado da época 2003/04.